quinta-feira, 18 de outubro de 2012

a notícia



 A dança da vida - Edvard Munch



"A Segurança Social só garante a reforma por mais um período de oito anos".

A notícia estalou numa voz vibrante, clara, com a exaltação de quem anseia pelo efeito da grande audiência.  Depois veio a justificação, e a clarificação das consequências. E, dizia: embora  a esperança de vida tenha tendência a aumentar,  passando por isso a haver mais velhos,  muitos deles irão morrer. E pelo modo  da notícia, isso até dava jeito.  É claro que isso é a realidade; mas o que eu supunha, era que o jornalista já saberia disso antes; e não precisava de tanto entusiasmo para o constatar.

Esta notícia, porque me atingia particularmente, pôs-me a fazer contas. E, das várias  hipóteses  que dela poderiam resultar, curiosamente,  nenhuma  tinha nexo. Quando os anos, cautelosos, reclamavam a sua posição dianteira, logo o cérebro, reclamava a sua posição  em retaguarda. Neste impasse, e se a nossa vida é a que  o nosso cérebro nos dá, as contas anunciadas pelo jornalista não batiam certas.

Então, "que se lixe" a notícia e o jornalista.

.

.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

PARABÉNS



  Agustina Bessa Luiz faz hoje 90 anos.

Afastada da escrita por razões de saúde, silenciosamente, não fora o sobressalto com algum ruído, causado pela publicação de dois novos inéditos  numa nova colecção chamada Contemplações da editora Babel, exclusivamente dedicada à escritora.
O primeiro volume da colecção, intitula-se  “Kafkiana” e é constituído por quatro
 pequenos textos que se debruçam sobre a natureza do homem kafkiano: a esse propósito, disse Agustina:
" Quem, como eu, por razões de estudo, se interessou vivamente por um autor (trata-se de Franz Kafka, em que não pretendo doutorar-me, mas de que tirei a licenciatura) durante muito tempo, não pode evitar a sua sombra. Pelo que os meus artigos muitas vezes rodeiam os seus pensamentos, confiam nas suas palavras com esse abandono carinhoso que dedicamos a quem nos deu o pão do ensino”

 O segundo volume da coleção é um conto de 1951, intitulado “Cividade”, que recebeu nesse mesmo ano o primeiro prémio de ficção nos Jogos Florais do Minho, aos quais concorreu com o nome do marido, Alberto de Oliveira Luís.
 Neste conto, Agustina  revive um cenário da infância, de quando passava férias na Quinta de Cavaleiros, perto da Póvoa de Varzim.
 Estes dois inéditos são publicados hoje, dia do seu aniversário.

E da extensa obra literária que Agustina produziu, transcrevo o texto que se segue, por me parecer oportuno no tempo que se vive


A Saturação da Servidão

 Hoje estão em causa, não as paradas, que é tudo em que as multidões são adestradas, ou a guerra, a que se convidam; está em causa toda uma dinâmica nova para criar o habitat duma humanidade que atingiu a saturação da servidão, depois de há milénios ter dado o passo da reflexão. As pessoas interrogam-se em tudo quanto vivem. A saturação da servidão não é uma revolta; é um sentimento de desapego imenso quanto aos princípios que amaram, os deuses a que se curvaram, os homens que exaltaram. (...) Mas foi crescendo a saturação da servidão, porque a alma humana cresceu também, tornou-se capaz de ser amada espontaneamente; tudo o que servimos era o intermediário do nosso amor pelo que em absoluto nós somos. Serviram-se valores porque neles se representava a aparência duma qualidade, como a beleza, o saber, a força; esses valores estão agora saturados, demolidos pela revelação da verdade de que tudo é concedido ao corpo moral da humanidade e não ao seu executor.
Um grande terror sucede à saturação da servidão. Receamos essa motivação nova que é a nossa vontade, a nossa fé sem justificação a não ser estarmos presentes num imenso espaço que não é povoado pela mitologia de coisa alguma. Somos novos na nossa velha aspiração: a liberdade é doce para os que a esperam; quando ela for um facto para toda a gente, damos-lhe outro nome.


Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'


.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

A vindima


O Outono de Goya ( Museu do Prado)


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Aquilino Ribeiro Machado


Aquilino Ribeiro Machado nasceu em Paris, na Ile de France em 1930, no ano em que seu pai, Aquilino Ribeiro, escreveu "O homem que matou o diabo!
 Aquilino Ribeiro participara na revolta de Pinhel em 1928 ( movimento militar do Regimento de Pinhel, que foi abortado), e tendo fugido do presídio do Fontelo, em Viseu, refugiou-se em Paris, onde casa com Jerónima Machado; é  julgado à revelia em Tribunal Militar em Lisboa, e condenado.

Jerónima Dantas Machado, era filha de Bernardino Machado, Presidente da República por duas vezes  na 1ª República.

Com menos de 1 ano veio com a família viver na Galiza e, em 1932, passou a residir em Portugal para onde seu Pai veio  clandestino, sendo mais tarde amnistiado.


 
 Casa Museu  Aquilino Ribeiro -Soutosa-Moimenta da Beira
 
Era engenheiro de formação, foi militante co-fundador do Partido Socialista, e foi o primeiro Presidente da Cãmara de Lisboa eleito em democracia. Foi também deputado na Assembleia da República na I e II legislaturas pelo círculo de Lisboa.
Morreu hoje com 82 anos de idade.

.