quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Parabéns Manoel de Oliveira!



Cento e seis?
Casque-lhes, que eles merecem!


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domingo, 7 de dezembro de 2014

PARABÉNS MÁRIO SOARES

                                                           A vitória da Liberdade


MÁRIO SOARES faz 90 anos!
Um grande abraço de parabéns !
E um pedido: Não se cale!


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sábado, 6 de dezembro de 2014

ÍTACA

                                                                                          
   


O Rei da Ítaca

A civilização em que estamos é tão errada que
Nela o pensamento se desligou da mão

Ulisses rei da Ítaca carpinteirou seu barco
E gabava-se também de saber conduzir
Num campo a direito o sulco do arado



Sophia de Mello Breyner Andresen
O Nome das coisas (1977)
 (foto da Webb)
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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Porque fiz anos



O Nascimento de Vênus (1486), Sandro Botticelli


 Festejar o dia em que nasci, é um gosto que me vem da infância! E ao recordá-lo, ao aproximar-me da minha meninice, do meu começo, tomo consciência do caminho percorrido  e de tudo o que a vida me reservou para a viver. Como quem faz um balanço!
Mas a memória também se encarrega de me lembrar os outros dias de anos. Despreocupados....... a toalha branca de linho com cheirinho a alfazema, linho da nossa casa, que o víamos crescer e florir;  só não se tecia. Mas espadelava-se e fiava-se nos serões de inverno.
E o serviço de jantar que saía dos armários só em dias de festa?!
E a cadeira de braços  que se trazia da sala de visitas para o aniversariante e se engalanava com fitas e laços, dando-nos uma sensação de inigualável importância!
Às vezes faziam-se tapetes de flores no corredor que dava acesso à sala de jantar!
E também se sentia o cheirinho que vinha da cozinha e nos permitia adivinhar o que iria ser servido; não esquecendo, porque nunca faltava, o leite creme torrado.
E depois, vinham as prendas e os versos feitos especialmente para o dia, pelo meu Pai. E cantava-se!
Era um dia feliz!

Os anos da Bita

Eu quero fazer aqui à nossa Mariinha
Uns versos lindos de ternura e amor
Mas a minha pobre lira coitadinha
Só dará versos tristes, sem métrica e sem cor.

Não devia ser, porque ela, a marota,
É sempre alegre, risonha e traquinas;
E seria bom que, já que hoje, à solta,
Os pratos, as chávenas, as travessas, as terrinas,

Saem dos armários, gavetas e prateleiras,
Se cantassem em estrofes lindas de alegria
Os caracóis doirados da sua cabeleira
O "sono" que tanto a enleva e delicia,

Cantar-lhe os anos festivos que hoje faz,
Comer frango com arroz e creme tostado
Em honra da Maria que tanto se compraz
(...)

Festejemos, então, os anos neste dia,
Da nossa rebolota de ares tão meigos.
E, comamos e bebamos com alegria,
E vamos na sua face dar ternos beijos

I-XII-939
J. Cancela

(extracto de versos do meu Pai
no dia dos meus 5 anos.)


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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

É a hora!




A MENSAGEM  de FERNANDO PESSOA foi lançada no dia 30 de Novembro de 1934

e no dia seguinte, do mesmo ano, a minha Mãe lançou-me neste mundo.

Fizemos anos as duas e ambas, estamos de parabéns. A MENSAGEM porque é uma  obra

prima  da nossa literatura; eu porque  ainda por cá ando para a ler.


Sempre actual, transcrevo o princípio e o fim:

BRASÃO


O DOS CASTELLOS


A Europa jaz, posta nos cotovellos:
De oriente a Occidente jaz, fitando,
E toldam-lhe romanticos cabellos
Olhos gregos, lembrando. 
O cotovello esquerdo é recuado;
O direito é em angulo disposto.
Aquelle diz Italia onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se appoia o rosto. 
Fita, com olhar sphyngico e fatal,
O Occidente, futuro do passado. 
O rosto que fita é Portugal.

O ENCOBERTO


NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fatuo encerra. 
Ninguem sabe que coisa quere.
Ninguem conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ancia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro... 
É a Hora!


Fernando Pessoa

in "Mensagem"

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Paz na Palestina

O vergonhoso massacre  na Faixa de Gaza deve-nos fazer pensar  no que de bom se poderia fazer, se não houvesse tanto cinismo, injustiça e ganância entre os senhores que mandam e os que deles se servem. Os ódios são diabolicamente fabricados para garantirem  guerras de que alguns poderosos beneficiam  e claro está, os mais frájeis, nomeadamente as crianças, são indiscutivelmente as vítimas.
E é neste mundo em desequilíbrio que surgem, mesmo assim, pessoas grandes que são capazes de projectos, que contrariando tudo aquilo que nos querem fazer crer, põem "inimigos" a trabalharem em conjunto, transmitindo ideias de paz, beleza, harmonia e solidariedade.

 A este propósito escrevi há já alguns anos:


         Aplausos para Daniel Barenboim e a sua West-Eastern Divan Orchestra

   No passado dia 7 o Grande Auditório da Gulbenkian esgotou para ouvir Beethoven (Abertura «Leonore III»op72c), Arnold Schonberg ( Variações para Orquestra, op31) e Tchaikovsky (Sinfonia Nº 6 em Si menor, op. 74, «Patética») pela orquestra criada em 1999 pelo músico  israelita Daniel Barenboim e o intelectual palestiniano Edward Said, já falecido.
As palavras, no nome da orquestra, West-Eastern Divan referem-se a uma colecção de poemas de Goethe em homenagem a este poeta alemão, pela sua universalidade, e que curiosamente começou a estudar arábico com mais de sessenta anos.
A orquestra, constituída por jovens músicos israelitas e de outros países do Médio Oriente, não é apenas um projecto musical, mas visa estabelecer um diálogo entre países de culturas tradicionalmente rivais. Os trabalhos tiveram início em Chicago em 2002, mas a orquestra veio a estabelecer-se em Sevilha em 2004 graças ao apoio institucional e financeiro do Governo da Região Autónoma da Andaluzia. Criaram a Fundação Barenboim-Said com sede em Sevilha, e a Barenboim-Said Foundation USA nos Estados Unidos; mas esta, só para angariação de fundos. O projecto é liderado por Barenboim e por Maria Said, viúva de Edward Said. A base da orquestra é constituída por um número igual de músicos israelitas e palestinianos aos quais se juntam músicos da Andaluzia e ainda outros alunos como observadores. O Governo da Andaluzia atribui bolsas aos alunos dotados e com poucos recursos económicos, para estudarem na Europa e nos Estados Unidos.
A orquestra têm-se apresentado em diversos países europeus, e americanos, tendo actuado pela primeira vez num país árabe em 2003, (Rabat) e em 2005 na Palestina(Ramallah). Tem gravado CDs/DVDs.
Com uma programação excelente, Barenboim dirigiu a orquestra com a sua forma muito peculiar, não excedendo o gesto e não faltando o necessário. Imprime confiança, sentimento, rigor. No final a plateia manteve-se de pé aplaudindo continuada e energicamente. Veio-me à memória o que se passou no Coliseu há uns anos a traz; Barenboim regia a Sinfónica de Chicago e tocava Mahler. Quando terminou, a assistência levantou-se de uma só vez, como uma mola. Ouviu-se um ah!!! abafado,  de espanto,  e soltaram-se os aplausos!

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terça-feira, 1 de julho de 2014

Sophia



 
A coisa mais antiga de que me lembro é dum quarto em frente do mar dentro do qual estava, poisada em cima de uma mesa, uma maçã enorme e vermelha. Do brilho do mar e do vermelho da maçã erguia-se uma felicidade irrecusável, nua e inteira. Não era nada de fantástico, não era nada de imaginário: era a própria presença do real que eu descobria. Mais tarde a obra de outros artistas veio confirmar a objectividade do meu próprio olhar. Em Homero reconheci essa felicidade nua e inteira, esse esplendor da presença das coisas. E também a reconheci intensa, atenta e acesa na pintura de Amadeo de Sousa-Cardoso. Dizer que a obra de arte faz parte da cultura é uma coisa um pouco escolar e artificial. A obra de arte faz parte do real e é destino, realização, salvação e vida.
Sempre a poesia foi para mim uma perseguição do real. Um poema foi sempre um círculo traçado à roda duma coisa, um círculo onde o pássaro do real fica preso. E se a minha poesia, tendo partido do ar, do mar e da luz, evoluiu, evoluiu sempre dentro dessa busca atenta. Quem procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito de verdade que o anima, a procurar uma relação justa com o homem. Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo. Aquele que vê o fenómeno quer ver todo o fenómeno. E apenas uma questão de atenção, de sequência e de rigor.
E é por isso que a poesia é uma moral. E é por isso que o poeta é levado a buscar a justiça pela própria natureza da sua poesia. E a busca da justiça é desde sempre uma coordenada fundamental de toda a obra poética. Vemos que no teatro grego o tema da justiça é a própria respiração das palavras. Diz o coro de Esquilo: «Nenhuma muralha defenderá aquele que, embriagado com a sua riqueza, derruba o altar sagrado da justiça.» Pois a justiça se confunde com aquele equilíbrio das coisas, com aquela ordem do mundo onde o poeta quer integrar o seu canto. Confunde-se com aquele amor que, segundo Dante, move o sol e os outros astros. Confunde-se com a nossa fé no universo. Se em frente do esplendor do mundo nos alegramos com paixão, também em frente do sofrimento do mundo nos revoltamos com paixão. Esta lógica é íntima, interior, consequente consigo própria, necessária, fiel a si mesma. O facto de sermos feitos de louvor e protesto testemunha a unidade da nossa consciência.
A moral do poema não depende de nenhum código, de nenhuma lei, de nenhum programa que lhe seja exterior, mas, porque é uma realidade vivida, integra-se no tempo vivido. E o tempo em que vivemos é o tempo duma profunda tomada de consciência. Depois de tantos séculos de pecado burguês a nossa época rejeita a herança do pecado organizado. Não aceitamos a fatalidade do mal. Como Antígona, a poesia do nosso tempo não aprendeu a ceder aos desastres. Há um desejo de rigor e de verdade que é intrínseco à íntima estrutura do poema e que não pode aceitar uma ordem falsa.
O artista não é, e nunca foi, um homem isolado que vive no alto duma torre de marfim. O artista, mesmo aquele que mais se coloca à margem da convivência, influenciará necessariamente, através da sua obra, a vida e o destino dos outros. Mesmo que o artista escolha o isolamento como melhor condição de trabalho e criação, pelo simples facto de fazer uma obra de rigor, de verdade e de consciência, ele está a contribuir para a formação duma consciência comum. Mesmo que fale somente de pedras ou de brisas a obra do artista vem sempre dizer-nos isto: Que não somos apenas animais acossados na luta pela sobrevivência mas que somos, por direito natural, herdeiros da liberdade e da dignidade do ser.
Eis-nos aqui reunidos, nós escritores portugueses, reunidos por uma língua comum. Mas acima de tudo estamos reunidos por aquilo a que o Padre Teilhard de Chardin chamou a nossa confiança no progresso das coisas.
E tendo começado por saudar os amigos presentes quero, ao terminar, saudar os meus amigos ausentes: porque não há nada que possa separar aqueles que estão reunidos por uma fé e por uma esperança *.
Sophia de Mello Breyner Andresen

*(Texto lido em 11 de Julho de 1964 no almoço de homenagem promovido pela Sociedade Portuguesa de Escritores, por ocasião da entrega do Grande Prémio de Poesia atribuído a Livro Sexto).


Publicado no facebook por Eduardo Graça, a propósito da trasladação de Sophia de Mello Breyner Andresen para o Panteão Nacional.

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sexta-feira, 20 de junho de 2014

Poesia


Salema



Iremos juntos sozinhos pela areia
Embalados no dia
Colhendo as algas roxas e os corais
Que na praia deixou a maré cheia.

As palavras que disseres e que eu disser
Serão somente as palavras que há nas coisas
Virás comigo desumanamente
Como vêm as ondas com o vento.

O belo dia liso como um linho
Interminável será sem um defeito
Cheio de imagens e conhecimento.


 Sophia de Mello Breyner Andresen
in No Tempo Dividido, 1954

      

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Poesia

                                                                 Porto


Os Amigos 


Voltar ali onde 
A verde rebentação da vaga
A espuma o nevoeiro o horizonte a praia
Guardam intacta a impetuosa
Juventude antiga -
Mas como sem os amigos
Sem a partilha o abraço a comunhão
Respirar o cheiro a alga da maresia
E colher a estrela do mar em minha mão

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Musa'


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segunda-feira, 9 de junho de 2014

Passeio no Douro II

( Continuação)

2º dia

Régua

No segundo dia, ao acordar, da janela do meu quarto o rio tinha a cor cinzento chumbo.





    Mas logo o sol se descobriu e o rio de cinzento passou a azul.







    Da Régua abalamos para o Vesúvio, de comboio, com o sol  sempre forte.



   E o rio que na Régua de cinzento passou a  azul, agora vai  passar a verde.

   As imagens são recolhidas com o comboio em andamento e através do vidro da janela. 
















Chegados ao Vesúvio,  almoço na Casa da Boa Comida que fez jus do nome, para onde nos transportamos de auto-carro.

 Ementa:

 Óptimas pataniscas de bacalhau com azeitonas
 cozido à portuguesa feito em potes de ferro na lareira
 leite creme
 arroz doce
 pão maravilhoso
 vinho da região
 café


Duas belíssimas rosas das muitas roseiras que encontramos nas bermas do caminho de acesso ao restaurante.




Depois de almoço,  e de auto-carro,  encaminhamo-nos para a casa que foi propriedade de Dona Antónia Ferreira,  a Ferreirinha e que Agustina usou como sendo a casa de Osório com quem Ema teve uma relação amorosa. A este propósito, lê-se o seguinte:

(...) O seu refúgio era o Vesúvio. Chegava lá depois de muitas horas de viagem, num comboio a vapor, com transbordo, cheio de gente muito selvagem, completamente desbocada, feliz na sua prosmicuidade.(...)



A casa do Vesúvio;  defronte, o monte que lhe deu o nome

(...)Muitas vezes Osório não aparecia. Ema ficava bloqueada pela chuva, passava no Vesúvio quatro ou cinco dias, aborrecendo-se de morte, folheando revistas velhas.(...)

(...) Ema jantou sozinha na sala enorme, com aparadores como capelas onde brilhavam os dragões rosa da louça da China. Era a casa dos Osório do Vesúvio, construída no estilo barroco, com escadas de pedra e um terraço sobre o rio. Uma casa lendária, que cheirava a vinho fino, a aguardente vínica, a vinagres de cheiro.(...)










Pormenores da casa do Vesúvio

  Lê-se no Vale Abraão:

(...) Quando chegava ao Vesúvio, não era para se reunir com Fernando Osório; mas para navegar a sós naquele rio escuro, sabendo que o barco podia voltar.se pelo risco que lhe impunha duma velocidade exagerada para o seu calado.(...)

(...)O mordomo Caires prevenia-a do mau estado do cais. As tábuas lodosas tinham apodrecido no último Inverno, a ponto de os cães não quererem pisá-las.
-Eles sabem que não estão seguras. Mas ainda não arranjei ninguém para as consertar.
Ema passou a conhecer melhor o pontão, a esquivar-se dos seus estalidos, a saber onde vergavam as madeiras; eram só uns segundos de perigo, depois encontrava-se, como num ventre macio, dentro do barco, cujas almofadas azuis a rodeavam. E Ema deixava-se levar no fio da água, vendo a esteira de prata que a seguia fora do peso dos elementos; como se voasse ao encontro de um sentido que fosse o sinal da incarnação feminina.  As altas falésias, de pedra granítica e tumular, levantavam-se nas margens. Não se podia chamar margens àquilo. Eram detalhes dum vulcão; eram, nas pedras, rasgões de garras que ali tivessem escorregado. Quem? O silêncio impenetrável subia até aos sarçais onde restos de oliveiras, que não morriam nunca,  pareciam ossadas desenterradas.(...)

(...) Fernando Osório fora um amante fútil que ela usara como o golpe de rins do mergulhador que muito tempo percorre os abismos em busca de uma riqueza afundada;  e que, de repente, compreende que está em vias de afogar-se, que os pulmões vão explodir se não puder voltar à superfície.(...)

(...) O Vesúvio transmitia-lhe uma lisa imagem de si própria: a mulher adúltera(...)




 (...)Depois de jantar, como era ainda dia, Ema desceu ao cais de embarque, disposta a dar uma volta na lancha(...)

(...) Ao saltar para a embarcação, sentiu,  debaixo dos pés, o ruído aziago das pranchas podres. Estavam a ceder e ameaçavam ceder sob o peso de alguém. Como Ema era leve, elas apenas gemeram e pareceram resistir.  Mas, subitamente, esboroaram-se como cogumelos negros dos que crescem nas árvores e anunciam a sua morte. Ema não teve tempo de agarrar a beira do barco, o lodo fez-lhe fugir das mãos o casco, que ficou a balançar suavemente, sem ruído. Ela afundou-se rapidamente(...)


                                                 A rampa que acede ao cais de embarque

De visita à quinta fomos ver uma adega, entre as nove, acompanhados de um engenheiro agrónomo  e, ficamos a saber que as vinhas do Douro exigem o dobro do investimento em relação às vinhas  do Alentejo; consequência inevitável da configuração do terreno.


 visita à quinta


 na adega





Ficamos a saber também que o vinho se continua a fazer pelos processos  primitivos com os mesmos rituais, mantendo a qualidade e a tradição;  e as adegas, assim como os lagares, se conservam integralmente os mesmos. Depois de reparados têm a mais a energia eléctrica, como referiu com alguma ironia o engenheiro que nos acompanhava.
Depois disto, despedimo-nos do Vesúvio e desta vez sem prova de vinhos, o que lamentamos.

Fica a recordação de um interessante passeio e a certeza de que  as atracções da região do Douro são infindáveis e, em qualquer altura do ano, o rio aposta sempre em nos surpreender!


24, maio 2014
Maria Cancela
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quinta-feira, 5 de junho de 2014

Um passeio no Douro I

 1º dia

 Um passeio no Douro, por terras Agustinianas, teve o objectivo de visitar lugares onde se desenvolve a história do livro Vale Abraão.
  
"No Vale Abraão, lugar dum homem chamado inutilmente à consciência do seu orgulho, da vergonha, da cólera, passavam-se coisas que pertenciam ao mundo dos sonhos, o mundo mais hipócrita que há" Agustina Bessa Luís.

Este livro,Vale Abraão,  destinou-se a servir de guião ao filme de Manoel de Oliveira com o mesmo nome e, sem dúvida, que a obra ficou muito valorizada.
Foi um passeio muito interessante orientado por pessoas conhecedoras da literatura e da região.
Começamos pela Quinta da Pacheca, local onde Oliveira rodou várias cenas do filme Vale Abraão, com prova de vinhos e onde almoçamos.


                                                  Na Quinta da Pacheca


Adega da Quinta da Pacheca


 Depois de almoço,  passando por Vale Abraão até Godim,  vimos aí a casa que serviu de cenário a alguns episódios do filme e onde foi descerrada uma lápide na entrada da casa onde  a  Agustina viveu e. onde Oliveira filmou também algumas cenas.

Deste vale, diz Agustina no seu livro: - "Porém, há na curva que apascenta o rio pelo rechão areento, ao sair da Régua, um vale ribeiro de produção de vinhos ainda de cheiro e que se estende, rumo à cidade de Lamego, comarca a que pertence, até às águas medicinais de Cambres. É o Vale Abraão, com suas quintas e lugares e sombra que parecem acentuar a memória dum trânsito mourisco que de Granada trazia as mercadorias do Oriente e, porventura, os gostos de pomares de espinho e dos vergéis de puro remanso".


Vale Abraão

 
Quinta de Vale Abraão, casa de  Carlos Paiva
hoje  Hotel de luxo, depois de um incêndio

Agustina, no seu livro, descreve assim esta casa:

(...)Em Vale Abraão estava a casa de Carlos Paiva. Nada de orgulhar ninguém; um amontoado de sobrados, de pequenas salas e alcovas, e eidos que se foram juntando, como para se aquecerem, e que resultara num incongruente encosto de telhados e goteiras, portas esconsas e janelas desiguais(...)


Em Godim, a casa de Ema -  o Romesal


Lê-se no Vale Abraão:

(...)O velho deu-lhe o endereço do Romesal; era a margem direita do Douro, uma quinta mediana, com jardim sobre a estrada. Paulino Cardeano convidou Carlos e disse que se estivesse doente o chamava.(...)

 (...)Carlos de Paiva viu-se um dia a sair do seu carrinho sujo e que cheirava a alcool canforado, a perguntar pelo Romesal a dois moços que desciam pela estrada.
- Depois da curva, mas vá com cuidado.
Riram-se alto e foram pelo caminho abaixo(...)
(...)O facto de Ema frequentar muito a varanda provocava bastantes percalços. Ao desfazer a curva da estrada, era forçoso levantar os olhos para a pessoa alí debruçada; e não havia motorista que ficasse indiferente. O choque da beleza ofuscava-o, isto sem querer exagerar. Perdiam por momentos o controlo e eram rudemente projectados contra a parede; outras vezes chocavam de frente com o carro que subia em sentido contrário e que não tinha maneira de se desviar, posto que o muro da propriedade de Ema era uma espécie de baluarte com quatro metros de altura. (...)
(...) As coisas foram piorando e chegaram aos ouvidos das autoridades. Uma manhã, pelas onze horas e pico, o Paulino Cardeano teve a visita do presidente da Câmara em pessoa.(...)
(...) - A sua filha é um perigo para o trânsito nesta estrada.(...)
(...) - Não sei o que a minha filha... - ia a começar a dizer o Cardeano. Mas o presidente interrompeu-o.
- Ela não tem culpa, é evidente. Mas aquela varanda é muito capaz de não estar bem colocada. Seria bom mudá-la de sítio.
- Mudar a varanda? - disse Cardeano. A sua pequena cabeça calva cobriu-se dum tom arroxeado que alarmou o presidente(...)   

                                    Ao lado do Romesal viveu Agustina                                                  
                                              Ficou assinalado nesta lápide

Entrada e jardim da casa onde viveu Agustina.
Motivo de inspiração dos artistas que nos acompanhavam

Rumo à Régua


Na Câmara Municipal da Régua realizou-se uma sessão na biblioteca, onde se fez a apresentação e prova do vinho Sibila, assim como o lançamento das últimas obras de Agustina.

                                                Rua defronte à Câmara Municipal


À noite, assistimos à projecção do filme de Manoel de Oliveira, Vale Abraão

23, Maio 2014

(continua)

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