quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Camus



No dia em que Camus fazia anos





        Camus faria hoje anos!
Escritor da minha juventude, não era fácil, se não impossível, adquirir os livros dele no tempo da ditadura. Daí que na minha primeira ida a Paris, Maio de 1960,  fui à procura deles! E um dos que comprei foi o Estranjeiro. Camus tinha morrido num acidete de viação em Janeiro desse ano E
Sartre, sobre o "ESTRANGEIRO", disse:(...)

"O estrangeiro que ele quer pintar é justamente um desses terríveis inocentes que constituem o escândalo de uma sociedade porque lhe não aceitam as regras do jogo. Vive entre os estrangeiros, mas para eles é também um estrangeiro. Por isso alguns hão-de amá-lo, como Maria, sua amante, que lhe dá importância " porque é bizarro"; e outras detestá-lo-ão por isso, como aquela multidão do tribunal, cujo ódio ele sente de súbito subir contra si. E nós próprios que, abrindo o livro, ainda não estamos familiarizados com o sentimento do absurdo, procuraríamos em vão julgá-lo segundo as nossas normas habituais: ele é um estrangeiro também para nós. Desse modo, o choque que o leitor sentiu ao abrir o livro, quando leu: "Pensei que passara mais um domingo, que a Mãe já fora a enterrar, que ia regressar ao meu trabalho e que, no fim de contas, continuava tudo na mesma", era voluntário: é o resultado do primeiro encontro do leitor com o absurdo. Mas o leitor esperava talvez que, levando por diante a leitura da obra, veria dissipar-se o seu mal estar, que tudo ficaria a pouco e pouco esclarecido, baseado em razão, explicado. A sua esperança ficou desiludida: O Estrangeiro não é um livro que explica: o homem absurdo não explica, descreve; não é também um livro que prove. Camus sòmente propõe e não se inquieta com justificar o que, por princípio, é injustificável. (...)
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terça-feira, 6 de novembro de 2018

No dia em que Sophia fazia anos

      6 de Novembro   



.A Forma Justa
Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

2 de Novembro


Homenagem

Uma recordação, em forma de homenagem,  no dia em que o meu Pai fazia anos!
Foi e continua a ser a referência e a força. Mas falta a conversa descontraída, séria, optimista, oportuna, visionária, divertida e a saborosa gargalhada!

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segunda-feira, 10 de setembro de 2018

11 de Setembro




11 de Setembro

Nasceu a 4ª filha que, por pouco, nascia no mar!

Terminado o tempo protocolar, a Teresa Guerra foi de opinião que devia desencadear o

parto. Seria  no dia 12 de Setembro. A experiência que já tinha não era boa, por isso, não

acarinhei a ideia.

Então, no dia 11,  depois de deixar os três filhos com a minha Mãe na piscina das marés

em Leça, fui como habitualmente para o consultório. Ao fim da tarde,   de fato de banho

vestido, fui buscá-los e meti-me no mar na praia ao lado da piscina. Como previ,  as

contrações foram imediatas; subi as escadas para a piscina já com alguma dificuldade,

mas a dificuldade maior foi convencer os filhos e a Avó a meterem-se  no carro; é que

nada lhes tinha dito do que se estava a passar.

Em 13 minutos pus-me em casa na R. Gonçalo Cristóvão!

Telefonema para a Teresa e correu tudo bem!


11, Set. 2018

C C

(foto da internet)


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domingo, 17 de junho de 2018

Zurbaran



Os esponsais místicos de Sta Catarina de Alexandria




Los ‘Desposorios místicos de Santa Catalina de Alejandría’ (1660-1662), procedente de una colección privada en Suiza, es una de las obras recientemente identificada como autógrafa de Francisco de Zurbarán. Es un magnífico ejemplo del estilo del pintor extremeño en los años finales de su carrera, descubierto hace poco tiempo por Odile Delenda, una de las comisarias de la exposición ‘Zurbarán: una nueva mirada’, que lo identificó como uno de los cuadros citados en el inventario de obras que el pintor tenía en su taller cuando falleció. 

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domingo, 4 de março de 2018

Universidade do Porto





           O Histórico Edifício da Universidade do Porto, sito na Praça dos Leões tem as suas origens no início do século XIX. Acolheu várias instituições que estiveram na génese da U.Porto e, desde 1911, ano da fundação, albergou, entre outras, a Faculdade de Ciências (1911-2006), a Faculdade de Engenharia (1915-1937), a 1ª Faculdade de Letras (1919), a Faculdade de Economia (1953-1974) e a Reitoria (actualidade). Pelo meio, resistiu a dois incêndios e testemunhou alguns dos momentos mais marcantes da história da Universidade. 
E que memórias guardamos nós dela ? Ainda fui das que a frequentou nas cadeiras de Física e Química Médicas, e também nas de Zoologia e Botânica Médicas. Mas sentia que, todos, dos Professores aos empregados de laboratório, nos consideravam como uns turistas da Faculdade de Medicina, inaptos para coisas de Ciência!
Um dia tive de fazer um trabalho prático, com o telescópio, numa sala com vista para a Tôrre dos Clérigos. Uma vez em frente daquela maquinaria, orientei-o para a Torre, mas, ao contrário e o cálculo deu um disparate. Inabilidade, sem dúvida. Mas o encorajamento não se fez esperar:
- Há-de ir para África caçar elefantes com alfinetes!!!!!
Numa teórica de Física, o Prof Carlos Braga conhecido pelas suas excentricidades, dava umas aulas que não nos interessavam absolutamente nada! Não possuíamos conhecimentos de matemática para o poder acompanhar. Um dia em que me ocupava a ver umas fotografias, voltei-me para trás e em voz sonora, exclamei! 

-Quem é este que está aqui ao meu lado?
Só que o Prof estava calado e o silêncio era absoluto!
-" Se não fosse senhora, mandava-a pastar Saia!........."
A gargalhada que soou foi tão imponente que se deve ter arrependido  do que disse....e não saí.
Há mais, mas fica para depois...


Porto, 4 Março 2018

C C

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terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Publicado no Art&manha

Concursos (de pequenino se torce o pepino)

3 junho 2007

Aconteceu a semana passada em Vila do Conde. Concurso de piano e violoncelo Marília Rocha.
Assisti à prova do dia 31, de piano, para crianças até 9 anos, na minha qualidade de reformada e com tempo para isso. Não sou profissional de música, tive um ensino rudimentar de violino nos anos 40/50, onde isso vai ………mas sou uma ouvinte muito atenta; e graças a Deus e graças à Gulbenkian tenho ouvido coisas muito boas. Haja em vista a programação com que ela nos presenteou este ano!
Pois muito bem, alegres e desenvoltas as crianças lá foram tocando, duas peças à escolha e uma imposta (Eu sou um coelhinho de Helder Gonçálves).
Quando tudo ia bem, levanta-se uma concorrente sentada na primeira fila, diferente das outras.
Cabelinho “escalado”, roupa muito alinhadinha, a condizer, postura aparentemente serena e veio-me à memória, a menina de outros tempos de fitas de veludo no cabelo a apanhar caracóis, sapato de verniz, vestido armado de organza; esta, era a edição moderna desse modelo.
E não é que tocava Chopin?!
Os dedos ágeis, a memória fresca (não houve brancas) mas, onde estava Chopin?
Será possível, até 9 anos, entender Chopin? Mas Chopin não escreveu para crianças! Coitado do Chopin, já lhe vimos atribuir concertos de violino pelo representante da Cultura deste nosso País, mas assassiná-lo deliberadamente com apoio e consentimento de responsáveis é bastante pior.
O intérprete, interpreta. Quem interpreta precisa de saber o quê, logo tem que entender; depois de entender tem de transmitir aos outros.
Mexi-me na cadeira algumas vezes, enquanto a criança tocava, ansiosa que ela terminasse. Desejei que ela tivesse uma branca e parasse ali.
Não se deveria aceitar programação fora de uma escrita adequada à idade. Até aos 9 anos a vivência que Chopin exige ainda está para vir. Começará em alguns casos na adolescência. De que estavam à espera, de um prodígio? Os prodígios contradizem o que eu estou a dizer, criam a sua identidade, estão fora da escala, por isso mandam à merda concursos destes. Esta menina não foi o que fez.
Ouvi crianças a tocar o Coelhinho com enorme sabedoria porque a música lhes dizia alguma coisa; uma delas fez um pianíssimo no final depois de um desenvolvimento saltitante, que não se pode esquecer.
Ouvi um Bartok admiravelmente arrogante e impetuoso; Mozart, livre, rebelde, irrequieto.
Estas crianças entendiam o que estavam a fazer.
No dia seguinte, fui ao concerto dos laureados, e a tal menina lá estava outra vez porque foi a escolhida.
Senhores Jurados, rompam com este atavismo cego, neste caso surdo, de premiar quem vem empurrado por “quem”.
Olhem e ouçam os anónimos como algumas daquelas crianças que tocavam tão bem, cientes e compenetradas mas que não tiveram quem as “empurrasse”. E depois foram todas, as que “sobraram”, metidas no mesmo saco; as boas, as melhores, as assim assim. Pôrra, escaqueirem a loiça de uma vez por todas……….
         C C

(Este texto, publicado no blog Art&manha em 2007, andava perdido)


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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Schoenberg





                Schoenberg, o "inventor" do dodecafonismo, além  de ser  o maior músico do sec XX, também se dedicou à pintura e integrou o grupo alemão "Cavaleiro Azul"  pensado e criado por Kandinsky.
                 Mas Schoenberg, como é habitual nas pessoas geniais, tinha manias. Tinha medo e terror ao número treze. E por coincidência ou "força oculta", nasceu no dia 13 de Setembro e vivia obcecado com a ideia de que iria morrer quando tivesse 76 anos (7+6=13) quando deu conta que, nesse ano, o dia 13 de Julho era numa Sexta feira. Conta-se que, chegado a esse dia, permaneceu deitado o dia todo. E quando a mulher alguns minutos antes da meia-noite entrou no quarto para, por brincadeira, festejar o fracasso da premunição, ele fitou-a, pronunciou "Harmonia" e então morreu!

A hora da sua morte foi 23:47, 13 minutos antes da meia-noite, numa sexta-feira 13, no seu septuagésimo sexto ano de vida (7+6=13) e com data de nascimento a 13 de Setembro!!!!!!

C C


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terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Domenico Ghirlandaio


A Visitação




Domenico Ghirlandaio
 pintor renascentista italiano contemporâneo de Botticelli e Filippino Lippi. Formou toda uma geração de excelentes artistas. Michelangelo foi um dos seus aprendizes.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

6 de Janeiro



Hospital da Lapa-Porto


A 5 de Janeiro de 1966, com residência no Porto, aguardava o nascimento do 3º filho. Talvez dali a uns 20 dias!...
 Resolvi, nesse dia, abrir a mala das roupas de bébé para lavar tudo e assim, preparar a mala com antecedência!
Quando terminei, dei-me conta de que o trabalho de parto se tinha iniciado. Fiquei em pânico! Com a roupa do bébé  toda molhada, não tinha que lhe vestir. Mas nada disse.
Morava na R. Gonçalo Cristóvão; desci à Alcofa em Sá da Bandeira, de fronte aos Cunhas, e com uma aparente calma fui pedindo tudo o que precisava para os dois primeiros dias.
A senhora que me servia estava perplexa! Eu não queria escolher nada; só mandava colocar no saco!
Subi a rua, não sei bem como, e em  casa telefonei à Teresa Guerra : é para agora.
Não se acreditou; mas que fosse para o consultório que iria lá ter.
Ao observar-me, foi peremptória: depressinha para a Lapa.
Mas  a Sofia, fez questão de nascer aos 20 minutos  do dia 6 e não no dia 5; que esse já era  da Paula!

6 de Janeiro de 2018

C C

(foto da Net)

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quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

5 de Janeiro



Era  Janeiro de 1964, no Dundo, capital da  Lunda Norte e sede da Companhia dos Diamantes, a Diamang.
Ter-se-ia de  escolher o local onde pudesse nascer, em segurança, o nosso segundo filho. Eu residia em Saurimo, capital da Lunda Sul e em plena guerra colonial; razão da nossa permanência em Angola. Não houve qualquer hesitação na escolha. Era o lugar mais seguro, o hospital mais bem equipado em toda a Angola: o Hospital Distrital do Dundo.


Hospital Distrital do Dundo

 É a mesma fachada, tendo a mais os aparelhos de ar condicionado. Nesse tempo refrescávamo-nos com enormes ventoinhas no tecto.

 A cidade era sinistra. Havia apenas vivendas e ruas desertas. Não circulava dinheiro. Os bens eram adquiridos  pelos funcionários da Diamang num edifício para esse fim.
O director do hospital,  pessoa delicada, pôs à minha disposição a biblioteca do hospital, enquanto aguardava o parto, mas nada me interessou. Foram uns dias tenebrosos!
Mas no fim de semana fui presenteada com a visita dos meus Jorges: o pai e o filho de 14 meses; e no domingo, às 10h, com o apoio de uma enfermeira-parteira  excepcional, cheia de classe e experiência, nasceu a Paula!
No dia seguinte lá voltaram os dois para Saurimo.
O drama chegou com um telegrama a anunciar a deslocação intempestiva do Jorge para as "Terras do fim do mundo" (Gago Coutinho). E o Jorginho ficaria entregue a uma família amiga! O desassossego apoderou-se de mim e perante a recusa da alta, pedi a uma enfermeira de cor, a única que me compreendeu, para me comprar o bilhete de avião e  arranjar um táxi que me levasse ao aeroporto. Assinei o termo de responsabilidade, e lá fui eu de alcofa, bébé e mala  para Saurimo! A bordo, atraí a simpatia do comandante que me veio cumprimentar e dar os conselhos que achou necessários para me defender e à bébé, dos saltos que o avião iria dar àquela hora e naquela região.
Um ataque terrorista dar-se-ia uns meses depois,  em Saurimo; mas antes, escapei para Luanda  onde estive no hotel Globo até ao embarque para Lisboa.

5, Janeiro 2018
C C

(foto da Net)
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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Deambulações Oblíquas




É porque nos decepcionamos
que procuramos a perfeição
O símbolo é o arco que abarca a totalidade
e por ele nós podemos alcançar
o que está do outro lado dela
A transcendência do que não vemos
a outra face do todo
é uma perspectiva simbólica
inerente à imediata presença
da face que estamos vendo
Assim o que vemos e o que não vemos
no objecto que estamos olhando
é a coisa em si que o animal não apreende
Não somos nunca o que está diante e separado
o que representa e o representado
em separada oposição
de ideia e objecto
de consciência e corpo
O que em nós está separado
em espírito e em corpo
está ao mesmo tempo unido
numa tensão oblíqua
que nos insere no mundo
E como seres simbólicos
e como seres-no-mundo
somos o que já somos
somos o que ainda não somos

António Ramos Rosa, in " Deambulações Oblíquas",
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